quinta-feira, 19 de setembro de 2019

IMPRENSA JOVEM EMEF LOURENÇO FILHO EM ENTREVISTA COM O SR. ROGÉRIO SOTTILLI, DIRETOR EXECUTIVO DO INSTITUTO VLADIMIR HERZOG



      

Matéria produzida pela equipe de Imprensa Jovem da EMEF Lourenço Filho


Rayane Fabris – Boa tarde! Somos os alunos do grupo Imprensa jovem da EMEF Lourenço Filho e gostaríamos de conversar um pouco com o Sr. sobre o trabalho desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, seria possível?

Sr. Rogério Sottilli – Seria um prazer.

Rayane – Como surgiu o Instituto o qual vocês fazem parte?

Sr. Rogério Sottilli –  O Instituto surgiu a dez anos atrás, por iniciativa da família do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar em 1975, depois de ser barbaramente torturado no DOI-CODI. Ele morreu porque defendia a liberdade de expressão, defendia os direitos humanos, defendia uma educação de qualidade, a cultura, e porque ele era um importante jornalista. Quiseram cala-lo e o mataram.

A família e os amigos de Vladimir Herzog resolveram criar o Instituto para defender o legado dele, a história dele, e ajudar a dar continuidade no motivo pelo qual ele morreu, que era lutar pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão. Então o Instituto nasce desta forma.

Hoje o Instituto trabalha com três eixos estratégicos. Um deles é a educação em direitos humanos, que é trabalhar com educação na perspectiva de mudar a cultura de violência que existe no país. Acreditamos que o Brasil é um país muito violento, ele é um país que tem uma cultura de violência e que a violência é naturalizada. Nós precisamos trabalhar muito com educação para que possamos mudar essa cultura.

Então nós temos três projetos de educação: o Respeitar é Preciso, que está em toda a rede de ensino municipal de São Paulo, estamos levando ele pra Pernambuco também, e queremos levar para outros lugares; Temos também um outro projeto chamado Usina de Valores, que trabalha com comunicação não formal, com públicos evangélicos, com grupos de comunicadores periféricos, porque acreditamos que são dois lugares, que são a potência para disseminar valores dos direitos humanos, respeito, solidariedade. Esse é o projeto. E temos um outro que é um curso de especialização em direitos humanos.

Outro eixo é o de liberdade de expressão jornalística, onde temos dois prêmios: o “Prêmio Vladimir Herzog”, prêmio mais importante do jornalismo do Brasil e o outro “Jovens Jornalistas”, onde estudantes jornalistas apresentam uma pauta, onde assim se é escolhido. Temos uma rede de proteção a jornalistas e comunicadores ameaçados de morte.

Sabiam que o Brasil é o país que mais mata os jornalistas e comunicadores no mundo, fora os países de zona de guerra? É uma barbaridade!

Acreditamos que temos que trabalhar nisso, porque o Vladimir morreu porque era jornalista.

Temos um outro eixo que é o de liberdade, de direito a memória, verdade e justiça. Acreditamos que a cultura de violência que tem no país, é porque no Brasil nunca se fez justiça. Na época do descobrimento do Brasil promoveram um genocídio indígena, mataram muitos índios, e ninguém foi responsabilizado por isso. Ao contrário, deram nomes de estradas, de ruas, de escolas desses grandes assassinos de índios.

O Brasil tem mais de três séculos de escravidão, e também não foi feita justiça nenhuma. Os grandes escravocratas, os que promoveram a chacina de índios, foram homenageados com estradas, escolas, e assim por diante. E a ditadura militar também, promoveram assassinatos, torturas, o que tem de pior, e eles são premiados.

O atual presidente da República diz que o maior orgulho dele é o maior torturador do Brasil que é o Brilhante Ustra. Esses dias, o presidente da República fez uma homenagem ao maior assassino do Chile que foi o Pinochet. Assim, se você tem um presidente da República que se sente à vontade para homenagear torturadores, assassinos, imagina a sinalização que eles passam as outras pessoas: que tudo pode nesse país, que nunca vai acontecer justiça nenhuma que ninguém vai ser responsabilizado, e ninguém vai ser preso por isso.

Então nós queremos trabalhar nisso, nós queremos responsabilizar e fazer justiça. Torturador, assassino, violência do estado tem que ser criminalizados, e tem que pagar na justiça penal. Ser responsabilizado por isso.

Esse é o instituto Vladimir Herzog.

Rayane - E como caminham juntos o Instituto e o projeto Respeitar é Preciso?

Sr. Rogério Sottilli – Esse projeto foi pensado e desenvolvido originalmente pelo Instituto Vladimir Herzog. Mas acreditamos que ele só será eficaz quando esse projeto for incorporado pela Secretaria de Educação. Não pode ser um projeto do Instituto para São Paulo. A Secretaria de Educação tem que acreditar nisso. O Instituto discutiu muito com a Secretaria, com os professores, fez as adequações, para que isso seja incorporado pela educação de São Paulo. E nós ajudamos com tudo: verbalização de eventos como esse, metodologia com os cursos, e assim por diante. Nós respeitamos muito essa parceria. Esse projeto não existe só com o Instituto Vladimir Herzog, só vai existir se essa parceria entre a educação e Instituto existirem efetivamente. E São Paulo está muito bonito por causa disso.

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