Matéria produzida pela equipe de Imprensa Jovem da EMEF Lourenço Filho
Rayane Fabris – Boa tarde! Somos os
alunos do grupo Imprensa jovem da EMEF Lourenço Filho e gostaríamos de
conversar um pouco com o Sr. sobre o trabalho desenvolvido em parceria com a
Secretaria Municipal de Educação, seria possível?
Sr. Rogério Sottilli – Seria um
prazer.
Rayane – Como surgiu o
Instituto o qual vocês fazem parte?
Sr. Rogério Sottilli – O Instituto surgiu a dez anos atrás, por
iniciativa da família do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura
militar em 1975, depois de ser barbaramente torturado no DOI-CODI. Ele morreu
porque defendia a liberdade de expressão, defendia os direitos humanos,
defendia uma educação de qualidade, a cultura, e porque ele era um importante
jornalista. Quiseram cala-lo e o mataram.
A família e os amigos
de Vladimir Herzog resolveram criar o Instituto para defender o legado dele, a
história dele, e ajudar a dar continuidade no motivo pelo qual ele morreu, que
era lutar pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão. Então o
Instituto nasce desta forma.
Hoje o Instituto
trabalha com três eixos estratégicos. Um deles é a educação em direitos
humanos, que é trabalhar com educação na perspectiva de mudar a cultura de
violência que existe no país. Acreditamos que o Brasil é um país muito
violento, ele é um país que tem uma cultura de violência e que a violência é
naturalizada. Nós precisamos trabalhar muito com educação para que possamos
mudar essa cultura.
Então nós temos três
projetos de educação: o Respeitar é Preciso, que está em toda a rede de ensino
municipal de São Paulo, estamos levando ele pra Pernambuco também, e queremos
levar para outros lugares; Temos também um outro projeto chamado Usina de
Valores, que trabalha com comunicação não formal, com públicos evangélicos, com
grupos de comunicadores periféricos, porque acreditamos que são dois lugares,
que são a potência para disseminar valores dos direitos humanos, respeito,
solidariedade. Esse é o projeto. E temos um outro que é um curso de
especialização em direitos humanos.
Outro eixo é o de liberdade
de expressão jornalística, onde temos dois prêmios: o “Prêmio Vladimir Herzog”,
prêmio mais importante do jornalismo do Brasil e o outro “Jovens Jornalistas”, onde
estudantes jornalistas apresentam uma pauta, onde assim se é escolhido. Temos
uma rede de proteção a jornalistas e comunicadores ameaçados de morte.
Sabiam que o Brasil é o
país que mais mata os jornalistas e comunicadores no mundo, fora os países de
zona de guerra? É uma barbaridade!
Acreditamos que temos
que trabalhar nisso, porque o Vladimir morreu porque era jornalista.
Temos um outro eixo que
é o de liberdade, de direito a memória, verdade e justiça. Acreditamos que a
cultura de violência que tem no país, é porque no Brasil nunca se fez justiça.
Na época do descobrimento do Brasil promoveram um genocídio indígena, mataram
muitos índios, e ninguém foi responsabilizado por isso. Ao contrário, deram
nomes de estradas, de ruas, de escolas desses grandes assassinos de índios.
O Brasil tem mais de
três séculos de escravidão, e também não foi feita justiça nenhuma. Os grandes escravocratas,
os que promoveram a chacina de índios, foram homenageados com estradas,
escolas, e assim por diante. E a ditadura militar também, promoveram
assassinatos, torturas, o que tem de pior, e eles são premiados.
O atual presidente da
República diz que o maior orgulho dele é o maior torturador do Brasil que é o
Brilhante Ustra. Esses dias, o presidente da República fez uma homenagem ao
maior assassino do Chile que foi o Pinochet. Assim, se você tem um presidente
da República que se sente à vontade para homenagear torturadores, assassinos,
imagina a sinalização que eles passam as outras pessoas: que tudo pode nesse
país, que nunca vai acontecer justiça nenhuma que ninguém vai ser
responsabilizado, e ninguém vai ser preso por isso.
Então nós queremos
trabalhar nisso, nós queremos responsabilizar e fazer justiça. Torturador,
assassino, violência do estado tem que ser criminalizados, e tem que pagar na
justiça penal. Ser responsabilizado por isso.
Esse
é o instituto Vladimir Herzog.
Rayane - E como caminham juntos
o Instituto e o projeto Respeitar é Preciso?
Sr. Rogério Sottilli – Esse
projeto foi pensado e desenvolvido originalmente pelo Instituto Vladimir
Herzog. Mas acreditamos que ele só será eficaz quando esse projeto for
incorporado pela Secretaria de Educação. Não pode ser um projeto do Instituto
para São Paulo. A Secretaria de Educação tem que acreditar nisso. O Instituto
discutiu muito com a Secretaria, com os professores, fez as adequações, para
que isso seja incorporado pela educação de São Paulo. E nós ajudamos com tudo:
verbalização de eventos como esse, metodologia com os cursos, e assim por
diante. Nós respeitamos muito essa parceria. Esse projeto não existe só com o
Instituto Vladimir Herzog, só vai existir se essa parceria entre a educação e
Instituto existirem efetivamente. E São Paulo está muito bonito por causa
disso.
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